quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Viver a ilusão do ideal ou a riqueza do real? Eis a questão!

Viver a ilusão do ideal ou a riqueza do real? Eis a questão!
Certa vez eu ouvi um pregador dizer que “viver é uma arte”. Não precisei pensar muito para poder concordar com tal afirmação. A vida é bastante complexa, sobretudo para quem se propõe encarar os desafios e viver as tristezas e as alegrias do dia a dia.
Somos muito egoístas. E isto nos faz querer sempre viver num ambiente que nos seja favorável. O que se constitui em algo bastante perigoso, pois pode nos fazer viver com base no ideal em detrimento de ter de encarar a realidade – a vida como ela é.
Há pessoas que vivem frustradas em seus casamentos, nos relacionamentos com os filhos, com parentes, amigos, igreja e sociedade, pois elas tendem a julgar as pessoas com base no ideal criado em suas mentes. O ideal nos rouba a capacidade de viver o real, pois dentro do ideal que criamos, tudo nos é favorável. Tendemos a criar o padrão para nosso julgamento e tomada de decisão com base nesse ideal. Quando fazemos isso, estamos a um passo de alcançar a frustração, pois, ao tentarmos fugir da realidade, estamos sendo egoístas e toda a nossa projeção do ideal será construída com base nesse sentimento.
O mundo e os ambientes nele criados não são só para nós. As pessoas nos afetam de forma negativa e positiva, assim como nós as afetamos também. Não há como nos dissociarmos desse fato, pois além de ser inerente à realidade, ele é necessário. O contentamento de uma vitória não consiste só na auto realização, mas no fato de que as pessoas verão que vencemos.
Para vivermos no ideal, teríamos que ser uma espécie de divindade que teria o poder de roubar das pessoas a capacidade de decidirem suas vidas de forma que não nos afetasse de maneira negativa. Mas aí elas não viveriam, apenas existiriam. Nem mesmo Deus roubou das pessoas sua capacidade de decidirem suas vidas. Um exemplo disso está no que pode ser lido em Gênesis 4. 6 e 7, quando Deus alerta Caim que deveria tomar a decisão de superar o sentimento de ódio que estava querendo subir a seu coração. Ele optou por não seguir o conselho e de Deus acabou cometendo o primeiro homicídio do mundo bíblico.
Caim estava “ensimesmado”, pois algumas coisas que estavam acontecendo não lhe eram favoráveis. Ele julgou Deus, seu irmão, sua religião, sua fé e a realidade de acordo com o ideal. Isso o fez transformar-se numa pessoa revoltada e impenitente. Dentro do seu ideal, ele estava sempre certo. Um exemplo disso pode ser visto na resposta que ele deus à Deus quando foi perguntado sobre onde estaria seu irmão. Ele disse que não era o guarda de seu irmão. Ele não só estava demonstrando revolta, como estava dizendo que Deus não havia sido capaz de livrar Abel de suas mãos.
Quando a pessoa opta por não viver e encarar a vida e as situações como elas de fato o são, tornará o mundo e os ambientes em locais hostis para si. E por pensar que assim o é (Ec 23.7), acaba vivendo “armado”, sempre pronto à responder a realidade de modo ranzinza. Pessoas desse tipo são amargas, encrenqueiras, briguentas, difamadoras, malévolas e, sobretudo, se tornam obstinadas como o Diabo – o Diabo idealizou um mundo que lhe fosse mais favorável e acabou por querer ser maior que Deus, caiu em pecado e se tornou imperdoável (obstinado), não por culpa de Deus, mas porque até hoje pensa estar certo (Is 14.13 e 14).
O mundo ideal faz com que pensemos ser vítimas da realidade, pois nem sempre ela nos favorece. Mas a realidade é assim: nos proporcionar alegria, tristeza, companhia, solidão, choro, sorriso, angustiar, satisfação… Mal sabemos que é vivendo a realidade que evoluímos, que ganhamos a capacidade de exercer o amor, o perdão, a misericórdia, pois o que de ruim nos acontece, não serve para nos vitimar, mas para que usemos o potencial que Deus nos deu para podermos crescer.
Para vivermos bem, precisamos aprender a concatenar as ferramentas existentes no mundo para podermos descobrir soluções e fazer ­­– sob o espectro do bem – as coisas tornarem-se favoráveis à nós, ou mesmo para podermos desenvolver a capacidade de superação quando não conseguirmos.
Quando se vive baseado no ideal, deixa-se de aproveitar a vida, que é de curta duração. Mesmo que alcancemos o ideal, ainda assim teremos de vivê-lo na realidade, e nele também teremos de enfrentar os mesmo problemas de hoje, mas em uma dimensão diferente. Quando se cresce na vida, não se deixa de ter problemas, apenas os temos proporcionalmente maiores que os anteriores, mas sempre dentro de nossa capacidade de suportabilidade e superação.
Na realidade temos de encarar a tristeza que os insultos dos outros nos provoca, mas também temos a oportunidade de aproveitar a riqueza emocional que um sorriso verdadeiro, seja vindo de quem for, nos oferece. Na realidade temos muito pelo que lamentar, mas temos também muito pelo que agradecer e aproveitar.
   por Fernando Pereira
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